segunda-feira, 11 de julho de 2011

Essa Febre Que Não Passa




À primeira vista, o que liga os quadros de "Essa febre que não passa" são as tensões de mulheres em acertos de contas com o passado, com o presente e com o futuro. Criaturas em situações-limite, transbordando de afetos.

É a quarta montagem do Coletivo Angu de Teatro, depois de "Angu de sangue", texto de Marcelino Freire; "Ópera", texto de Newton Moreno e "Rasif – Mar que arrebenta", também texto de Freire. Desta vez cena é ocupada só por mulheres.

As atrizes Ceronha Pontes, Hermila Guedes, Hilda Torres, Márcia Cruz, Mayra Waquim e Nínive Caldas se desdobram em criaturas inventadas pela jornalista e escritora Luce Pereira.

O resultado é tocante, ora suave, ora irônico, ora cortante. Sempre belo. Dos 17 contos que compõem o livro homônimo, o Coletivo escolheu cinco para encenar: Clóvis, Nomes, Talvez já fosse tarde, Um tango com Frida Kahlo e Dora descompassada. Entre eles como uma liga orgânica, as passagens com breves depoimentos criados pelas próprias atrizes, sobre suas vidas pessoais: a relação com a irmã, com a velhice, com o mundo.



"Essa febre que não passa" tem uma comunicação fácil e contagiante. Tira o prosaico do cotidiano e nos fala de coisas muito caras que podem atingir a qualquer um, como dores de amores e separações. Os recalques voltam furiosos ou apaziguados com o tempo, mas não com o esquecimento. As feridas reabertas fazem tremer o corpo visível e o invisível também.

A montagem do Angu insiste em algumas características investigativas do coletivo, com o ator-narrador. Mas traz algumas variações, tem uma tonalidade mais feminina, às vezes mais frágil noutras de uma fortaleza insondável.

Os contos de Luce Pereira já expõem os nervos das personagens e cativam na sua aparente simplicidade. Dívidas de afeto com uma tia pouco afeita a carinhos são contabilizadas no conto "Talvez já fosse tarde". Um café com a irmã e a explosão de memórias, do desejo de crescer que não passou quando acabou a adolescência, em "Um tango com Frida Kahlo".

Enfim, um punhado de contos que percorrem estados de espírito. Pode predominar uma melancolia, mas todos inquietam e fazem pulsar vida em suas múltiplas possibilidades. De que é possível seguir em frente, de superação, de renúncia.



A direção foi muito feliz ao criar pequenos monólogos de passagem com depoimentos das atrizes sobre algo que tenha a ver com um dos contos. A montagem também forjou uma ligação entre personagens, mudando nomes, e fazendo referências a outras histórias.

A trilha sonora e direção musical são de Henrique Macedo que ajudar a expandir ou comprimir os tempos e dar as atmosferas dos contos.

No fundo Essa febre que não passa é um espetáculo sobre o amor, o amor idealizado que não tem correspondência na vida e precisa da morte, desse perigoso, frágil e obscuro sentimento que nos move ou imobiliza.

A encenação é toda feita de cuidados e detalhes que o espectador vai descobrindo aos poucos. E encantando-se cada vez mais.

* Texto de Ivana Moura
Daqui

Essa Febre Que Não Passa - Coletivo Angu de Teatro

Quando: 23 e 24 de Julho
Onde: Teatro Santa Roza
Ingressos: R$20 e R$10 (meia)

Um comentário:

  1. maravilhosas interpretações e uma trilha sonora espetacular! chorei em vários momentos da peça! assisti duas vezes!

    =]

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