O Coletivo Angu de Teatro tem levado à cena obras de autores pernambucanos contemporâneos. Em “Essa febre...”, o grupo pernambucano faz uma adaptação para os palcos dos contos da escritora e jornalista Luce Pereira, propondo desta forma, uma obra carregada de dramaticidade e que se afirma como possante instrumento para discussão sobre o universo feminino.
Essa febre que não passa é a estréia de Luce Pereira como contista. Diz ela, no prefácio do livro, que "depois de muita insistência, abriu as suas portas para este mundo de criaturas impalpáveis, mas que batiam forte, batiam feito loucas, até que um dia, cansada de tanto barulho, as deixou entrar". É este universo que instiga o Coletivo Angu de Teatro a tornar palpável a existência de tais personagens nos palcos brasileiros.
São apenas mulheres em cena, seis ao todo: Ceronha Pontes, Hermila Guedes, Hilda Torres, Márcia Cruz, Mayra Waquim e Nínive Caldas. As atrizes interpretam personagens, ao mesmo tempo que inserem passagens de suas próprias histórias. Colocam o espectador em contato com seus universos e aqueles das mulheres que representam de modo a acentuar a fricção entre o universo ficcional e a realidade.
Essa Febre Que Não Passa - Coletivo Angu de Teatro
Quando: 23 e 24 de Julho, às 20h
Onde: Teatro Santa Roza
Ingressos: R$20 e R$10 (meia)
terça-feira, 19 de julho de 2011
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Essa Febre Que Não Passa
À primeira vista, o que liga os quadros de "Essa febre que não passa" são as tensões de mulheres em acertos de contas com o passado, com o presente e com o futuro. Criaturas em situações-limite, transbordando de afetos.
É a quarta montagem do Coletivo Angu de Teatro, depois de "Angu de sangue", texto de Marcelino Freire; "Ópera", texto de Newton Moreno e "Rasif – Mar que arrebenta", também texto de Freire. Desta vez cena é ocupada só por mulheres.
As atrizes Ceronha Pontes, Hermila Guedes, Hilda Torres, Márcia Cruz, Mayra Waquim e Nínive Caldas se desdobram em criaturas inventadas pela jornalista e escritora Luce Pereira.
O resultado é tocante, ora suave, ora irônico, ora cortante. Sempre belo. Dos 17 contos que compõem o livro homônimo, o Coletivo escolheu cinco para encenar: Clóvis, Nomes, Talvez já fosse tarde, Um tango com Frida Kahlo e Dora descompassada. Entre eles como uma liga orgânica, as passagens com breves depoimentos criados pelas próprias atrizes, sobre suas vidas pessoais: a relação com a irmã, com a velhice, com o mundo.
"Essa febre que não passa" tem uma comunicação fácil e contagiante. Tira o prosaico do cotidiano e nos fala de coisas muito caras que podem atingir a qualquer um, como dores de amores e separações. Os recalques voltam furiosos ou apaziguados com o tempo, mas não com o esquecimento. As feridas reabertas fazem tremer o corpo visível e o invisível também.
A montagem do Angu insiste em algumas características investigativas do coletivo, com o ator-narrador. Mas traz algumas variações, tem uma tonalidade mais feminina, às vezes mais frágil noutras de uma fortaleza insondável.
Os contos de Luce Pereira já expõem os nervos das personagens e cativam na sua aparente simplicidade. Dívidas de afeto com uma tia pouco afeita a carinhos são contabilizadas no conto "Talvez já fosse tarde". Um café com a irmã e a explosão de memórias, do desejo de crescer que não passou quando acabou a adolescência, em "Um tango com Frida Kahlo".
Enfim, um punhado de contos que percorrem estados de espírito. Pode predominar uma melancolia, mas todos inquietam e fazem pulsar vida em suas múltiplas possibilidades. De que é possível seguir em frente, de superação, de renúncia.
A direção foi muito feliz ao criar pequenos monólogos de passagem com depoimentos das atrizes sobre algo que tenha a ver com um dos contos. A montagem também forjou uma ligação entre personagens, mudando nomes, e fazendo referências a outras histórias.
A trilha sonora e direção musical são de Henrique Macedo que ajudar a expandir ou comprimir os tempos e dar as atmosferas dos contos.
No fundo Essa febre que não passa é um espetáculo sobre o amor, o amor idealizado que não tem correspondência na vida e precisa da morte, desse perigoso, frágil e obscuro sentimento que nos move ou imobiliza.
A encenação é toda feita de cuidados e detalhes que o espectador vai descobrindo aos poucos. E encantando-se cada vez mais.
* Texto de Ivana Moura
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Essa Febre Que Não Passa - Coletivo Angu de Teatro
Quando: 23 e 24 de Julho
Onde: Teatro Santa Roza
Ingressos: R$20 e R$10 (meia)
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